“Boa parte de nós estamos perdidos em nossas carreiras”

por Luiza Piffero


É partindo desta realidade que Arthur Bender, professor da Escola de Criação da ESPM e um dos maiores especialistas em estratégia no Brasil, desenrola a linha de raciocínio do livro Personal Branding – Construindo sua marca Pessoal. Convidado pelo blog, o publicitário oferece um olhar aprofundado sobre as principais questões do livro que ensina a gerir a sua imagem pessoal como um legítimo negócio.
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Você fala que ao ler seu livro o leitor não vai ficar calmo (a trilha sonora dele está mais para punk rock do que Enya), pelo contrário. O que você quer despertar no leitor?
Não acredito na linha da tradicional auto-ajuda que mostra a desgraça dos outros para fazer comparações e levar o sujeito a pensar que todos somos grandes campeões. A realidade é o contrário. Boa parte de nós estamos perdidos em nossas carreiras. Uns perdidos ganhando bem, a grande maioria perdida, ganhando mal e sofrendo, mas sem saber muito para onde estão indo. Essa é a grande realidade da maioria das pessoas. Então procuro provocar, questionar, cutucar, apertar na ferida, para que o leitor possa fazer uma reflexão sobre o que pode ser feito. Boa parte do processo está na atitude, mas defendo que só atitude não resolve. É preciso ter um plano, um foco e estratégia, um posicionamento que possa servir de filtro técnico para tomada de decisão e uma bandeira que o faça levantar de manhã, enfrentar adversidades e buscar os seus melhores sonhos. Quero que o leitor possa fazer uma profunda reflexão sobre a administração da sua marca pessoal, que acaba tendo influência sobre sonhos de vida, profissão, carreira e realização pessoal.
Comente a pesquisa e o processo de criação do livro.
Trabalhei insanamente no primeiro esboço deste livro no verão de 2002. Tirei as minhas primeiras e únicas férias de 30 dias na vida e fiquei 30 dias consecutivos trabalhando nos originais. Antes disso, tinha devorado mais de duas dezenas de livros sobre carreira e tinha percebido que nenhum deles tratava de estratégia e de branding. Foi aí que começou a idéia de escrever um livro que pudesse tratar de carreira, mas com um enfoque de branding e de estratégia. Terminei os originais e engavetei até 2005. Segui lendo muitas biografias, outros livros de carreira, planejando meus clientes e este material foi enriquecendo. Em 2005, reescrevi alguns capítulos e engavetei de novo. E agora, no final de 2008, depois de ser contratado pela Editora Integrare, reescrevi boa parte dele, atualizando exemplos, ajustando o texto e escrevendo os capítulos finais.
Qual a relevância de manter a boa imagem da sua marca pessoal e qual o melhor caminho para se fazer isso?
Acredito que somos e seremos cada vez mais escolhidos com base na reputação e na capacidade de gerar confiança no mercado. Nosso valor como marca pessoal está aí. Cada vez mais a confiança ou a desconfiança será o ponto crítico entre o sucesso e o fracasso profissional. E confiança vem da reputação que construímos. Para isso é imprescindível que tratemos nossas marcas pessoais com o mesmo rigor e a mesma técnica com a qual fizemos branding corporativo. Não existe um mesmo caminho ou uma receita única. Cada marca deve ser tratada como singular e como tal terá um plano específico que dependerá de cada um, da capacidade de empreender, da bagagem técnica, da atitude, do ponto em que está, do tamanho dos seus sonhos, dos seus objetivos. O fundamental é saber para onde se está indo e ter um plano para isso.
Qualquer um pode criar e fortalecer a sua marca pessoal?
Sim. Personal Branding não é somente para pessoas célebres e visíveis, mas para qualquer pessoa que queira realizar alguma coisa na vida e que essa coisa passe pela sua pessoa, pela sua marca pessoal. Seja para aqueles que sonham com grandes ou pequenos sonhos. É indispensável para quem quer entrar no mercado e para aqueles que já estão no mercado, mas que não estão felizes e querem se reposicionar. Como também para aqueles que já estão no alto da carreira, mas que querem conquistar mais. Serve tanto para o presidente da empresa, quanto para os profissionais liberais, empregados e iniciantes que aspiram um dia chegar lá.
Como você desenvolveu o seu personal branding e o quão útil ele foi ao longo da sua trajetória? Lembra de algum episódio em especial?
Quando se tem objetivos e um foco para a marca fica bastante claro e simples tomar decisões difíceis na carreira. Quando não se tem, as oportunidades e ameaças se confundem e como não sabemos o que queremos ou para onde estamos indo, acabamos tomando decisões emocionais que nos levam, muitas vezes, à nada ou a fazer o que todo mundo está fazendo. Fazer um novo curso ou dar aulas? Trocar de mercado, de emprego ou ficar nesta empresa? Muitas oportunidades podem ser perdidas ou algumas aparentes oportunidades tornarem-se fracassos quando não se tem esse foco de marca.
Meu plano pessoal sempre esteve presente em todas minhas decisões profissionais nestes últimos dez anos. E muito me ajudou em várias delas. Quando saí da sociedade na agência Martins e Andrade em 2007, recebi em seis meses, dezessete propostas de emprego em agências e veículos. Algumas delas muito boas. Uma delas parecia ser a mais significativa da minha vida em termos financeiros, (era uma loucura rejeitar) mas agradeci e rejeitei porque tenho certeza de que me tiraria do foco e do caminhho que tracei para mim.
Em uma entrevista anterior ao blog você falou que o novo desafio do planejamento estratégico para marcas é pensar o branding como negócio e não como propaganda. Como seria pensar o personal branding como negócio?
Branding para mim é negócio e não comunicação. Personal Branding da mesma forma. O conceito trata, essencialmente, de gerar valor como marca pessoal, ou seja, tratar profissionais e suas marcas como empreendimentos. Isto é pensar-se como uma empresa, como um negócio que deve ser desejado no mercado, que deve ser rentável, que deve ser percebido com mais valor do que os outros profissionais que competem na mesma área. Ou seja, nossos desafios como profissionais são os mesmos das marcas corporativas num mercado cada vez mais competitivo e impiedoso com quem não tem gestão de marca.
A ESPM está desafiando os alunos a pensar fora da caixa, ou seja, sair da zona de conforto. O que é, na tua opinião, “quebrar a caixa”?
É ótimo esse conceito. É como pensar fora do quadrado. Pra mim, significa parar de ser tão normal, parar de ser tão igual, parar de ser seguidor, rebanho. Esse, pra mim, é o principal problema de frustração das pessoas no mercado: andarem no meio do rebanho. Não apostarem nas suas singularidades, não conseguirem pensar em gerar um valor único que só elas possam oferecer e acabarem sendo medianas, medíocres, com vidas medianas e compradas ao preço médio de mercado.
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Para saber mais sobre Personal Branding, entre no Blog do Arthur Bender. Lá se encontram mais de cem posts relacionados a estratégia, inteligência e branding. Encontre mais sobre Arthur Bender também aqui nos posts Bender, o autodidata e “Pensar o branding como negócio e não como propaganda”.

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